Móveis, estátuas, plantas decorativas, pinturas… elementos ornamentais! Serão meramente objectos? Não! A decoração, um tema aparentemente tão banal e desprovido de subjectividade, na obra d’”Os Maias” toma vida. São as “coisas” concretas,palpáveis e visíveis ,como a estátua de Vénus e a pintura sádica na Toca, que conduzem o leitor a penetrar num universo de imaginação, induzindo-o a analisar os sinais e interpretar os presságios inerentes, sendo uma ponte quer para a caracterização da sociedade da época e das próprias personagens, quer para o desfecho da acção.

Afinal, simples objectos que aparentemente têm como único objectivo a ornamentação, são elementos chave para o leitor se envolver no enredo e decifrar a mensagem crítica que Eça pretendia transmitir.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Elementos simbólicos

Cipreste e cedro

O cipreste, sendo o símbolo da morte, funciona como presságio do desfecho trágico de Pedro e de seu pai, Afonso da Maia.

Por outro lado, o cedro, o símbolo do envelhecimento, é, na nossa opinião, um prenúncio de inactividade, de envelhecimento passivo, de fracasso inerente a Carlos da Maia e Ega, que apesar de jovens e promissores, caiem na passividade e na apatia.

Numa outra perspectiva, interpretamos estes dois elementos como prenúncio de solidão destas duas personagens que, no final, ficam sós, melancólicos pelo seu percurso fracassado de viva, tal como é referido na obra “(…)o cipreste e o cedro envelhecendo juntos como dois amigos tristes."



Vénus Citereia

A Vénus Citereia, associada ao amor e à sedução, materializa o poder e a angústia provocada pelas duas mulheres, as duas Marias (Monforte e da Maia) que com o seu esplendor de deusas encantaram Pedro e Carlos da Maia de uma forma fatal. Num momento inicial aparece como "... enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres.“ o que remete para o abandono do Ramalhete; posteriormente aparece descrita com esplendor (“(…) parecia ter chegado de Versalhes”) o que interpretamos como a ilusão da felicidade inerente ao deslumbramento de Carlos e Pedro por Maria Eduarda e Maria Monforte; e ,finalmente, com ferrugem e humidade, o que relacionamos com o desvendar da feia realidade e com a desgraça provocada pelas duas mulheres.


 Ramo de girassóis

Relativamente ao ramo de girassóis existente na casa, interpretamos como a influência que quer Maria Monforte, quer Maria da Maia, exerceram nos seus amantes, sendo como sóis, que Pedro e Carlos seguem apaixonada e inevitavelmente.



Cascata

a cascata, inicialmente seca, no momento em que o Ramalhete se encontrava inactivo, aparece depois descrita como “uma delícia”, sendo num terceiro momento relacionada com a passagem inevitável e continua do tempo, acentuando o factor destino que se abateria na família dos Maias, tal como Vilaça anunciou num momento inicial, quando mencionou a Afonso a lenda mortal inerente ao Ramalhete. Por outro lado, este movimento de água, o gotejar, é também por nós interpretado como o cair das lágrimas ,“(…) o prantozinho da cascata(…)”, o choro, estando relacionado com toda a melancolia e tragédia inerente a esta obra.